Café em alta e baixa: a volatilidade do mercado e as expectativas para a próxima safra

Início de 2025 é marcado por recordes de preço e perspectiva de quebra
Por Bolsa Brasileira de Mercadorias BBM
18/02/2025 | 559

Café em alta e baixa: a volatilidade do mercado e as expectativas para a próxima safra

Início de 2025 é marcado por recordes de preço e perspectiva de quebra
Por Bolsa Brasileira de Mercadorias BBM
18/02/2025 | 559

Nas últimas semanas, o mercado do café atingiu patamares nunca vistos. No cenário interno, o indicador da Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM), mostrou uma alta mensal de 24% no valor do produto negociado no oeste da Bahia, onde a saca do arábica chegou a R$2.700,00. Em algumas regiões de Minas Gerais, maior produtor do grão, a saca do arábica registrou valorização em torno de 27% no acumulado de 30 dias, se aproximando dos R$ 3.000,00. Sendo o café uma commodity exportada, o preço praticado no Brasil, maior produtor e exportador do grão, considera a cotação internacional do produto que é multiplicado ainda pela taxa de câmbio. Recentemente, o contrato de arábica com vencimento em março de 2025 bateu máxima histórica na Bolsa de Nova Iorque ICE – Intercontinental Exchange -, chegando a ser negociado a US$ 440,85 por libra pessoa. Segundo o último relatório da bolsa nova iorquina, fundos e especuladores continuam comprando, aumentando suas posições. Só no mês fevereiro, a cotação subiu 16%.

 

Confira a cotação atualizada do café no Brasil no Indicador BBM

 

Para André Dominiquine, que cultiva o grão em uma área familiar em 35 hectares em Conceição da Aparecida (MG), e sócio da Agrinova Consultoria, os preços para aquele produtor que armazenou o produto estão altos, girando em torno de R$ 2.630,00 a saca de 60 quilos na região. “O momento atual está favorável para produtores pelo preço elevado do café, no entanto, vale ressaltar a perda significativa da produção devido à seca e o aumento no custo de produção como os insumos e a mão de obra”, ressaltou. Com uma média atual de 40 sacas por hectare, a realidade da safra de 2025 deve ser diferente em função do longo período de seca após a colheita de 2024. “Acreditamos em uma quebra em torno de 30% a 40 % e, possivelmente, ainda maior nas lavouras mais novas”, avaliou. No Brasil, a produção de café baixou 4,4%, de 54.215 mil sacas para 51.814 mil sacas em um ano. Uma das razões apontadas é a chama “bienalidade” negativa da cultura (alternância entre anos de alta e baixa produção, devido a característica genética das plantas).

 

Fazenda de café da família Dominiquini em Conceição da Aparecida (MG)

 

Fernanda Donizette Baesso Dias, consultora na Consulteagro, com atuação na Região Sudoeste de Minas, destaca que, em meio a esse cenário, é importante monitorar de perto o andamento da colheita e a evolução do mercado para um prognóstico mais preciso sobre os preços nos próximos meses e, mais do que nunca, levar a sério a gestão. Outra palavra que também faz parte do dicionário do produtor cafeeiro há muito tempo é a sustentabilidade. “A cultura do café tem avançado em práticas sustentáveis, com destaque para a adoção da cafeicultura regenerativa que vai além da produção sustentável ao focar na restauração dos ecossistemas, promovendo a recuperação do solo, a biodiversidade e a melhoria dos ciclos naturais”, explica. Esse modelo de manejo busca um equilíbrio ecológico que fortalece a resiliência do sistema agrícola. “Através dessas técnicas, como o uso de compostagem, plantas de cobertura, rotação de culturas, o cultivo sob sombra e insumos biológicos, os produtores conseguem aumentar a produtividade do café, melhorar sua qualidade e aprimorar a resistência das plantas a doenças e às variações climáticas”, enfatiza a consultora.

 

Trabalho regenerativo da Consulteagro na Fazenda Jaboticabeiras em Guaxupé (MG)

 

Para Fernanda, a atual safra de café apresenta um cenário desafiador com uma produção abaixo da demanda global de consumo que cresceu 3,1% para 168,1 milhões de sacas, ao mesmo tempo em que estoque final baixou para 20,9 milhões de sacas, o que indica uma queda de 6,6%, sendo o menor estoque mundial de café existente dos últimos 25 anos. “Esse descompasso pode gerar pressões tanto para os produtores quanto para os consumidores. Para os primeiros, a menor oferta pode impactar as receitas e, em alguns casos, até comprometer a sustentabilidade financeira das lavouras. Embora os preços estejam em alta, parte da produção já está comprometida em travas no mercado futuro e em Cédulas de Produto Rural (CPRs) a preços menores do que o atual”, explica. Já para os consumidores, explica a consultora, a escassez tende a resultar em um aumento no preço do grão a exemplo do que já vem ocorrendo, refletindo em mais elevação nas prateleiras.

 

O atual quadro também pode afetar a cadeia produtiva como um todo, desde os exportadores até os fornecedores de insumos, segundo a especialista. “Esse cenário exige atenção, principalmente no que diz respeito às políticas de estímulo à produção e à busca por soluções que possam minimizar os impactos dessa redução de oferta, como o uso de tecnologias mais eficientes no campo visando especialmente a mitigação das intempéries climáticas”, destaca a consultora que acredita que a pressão do mercado deve atuar como um fator limitante. “Até o período da colheita, os preços, provavelmente, continuarão a variar, com chances de ultrapassar valores já negociados, dependendo de fatores como o volume e a qualidade da entrega da safra. Além disso, o comportamento da demanda e a dinâmica da oferta também serão determinantes, influenciando ainda mais essa volatilidade”, pontua.  Nesse sentido, a prática sustentável no manejo de culturas, além de ser uma estratégia para mitigar os impactos ambientais, pode otimizar os recursos naturais, contribuindo para momentos de volatilidade, conforme a consultora.

 

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