Já se completaram mais de duas semanas do início do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, fato que vem deixando resultados inestimáveis com milhares de mortes nos dois países e impactos em diferentes setores. Nas commodities agrícolas, o sentimento de aversão ao risco contribuiu para aumento de preço da soja, do milho e do trigo nas últimas semanas, observando-se ampla volatilidade do mercado, enquanto isso, no mesmo período, houve recuo do algodão, assim como do café. Hoje, o indicador de preços da Bolsa Brasileira de Mercadorias aponta para o valor de R$ 6,89 por libra peso na pluma.
“É importante lembrar que o algodão vinha no patamar mais elevado dos últimos 10 anos então, em partes, ele devolveu um pouco dessa valorização”, ressalta Bernardo Souza Lima, Corretora Souza Lima, associada à Bolsa Brasileira de Mercadorias, que lembra também que conflitos trazem incertezas e que o algodão é uma commodity mais sensível às ameaças de crescimento econômico por não se tratar de um alimento como outras commodities e que pode ter o consumo mais ameaçado em crises geopolíticas com impactos econômicos resultando em menor consumo no ramo do vestuário.
O contraponto deste cenário é a forte alta do petróleo, matéria-prima dos concorrentes da pluma e da fibra natural do algodão, como o poliéster, e existe uma forte correlação entre as cotações do petróleo e do algodão. Apos o início dos conflitos, o barril de petróleo tipo brend ultrapassou US$ 100,00. “Eu acredito que no médio prazo essa correlação deva prevalecer e oferecer um suporte para o algodão. Considerando também que o conflito não tenha prazo de continuidade e a demanda se mostre ainda firme no mercado, o preço deva continuar favorável aos produtores”, contextualiza o corretor.
Outro ponto em relação ao conflito é no que diz respeito aos fertilizantes, uma vez que a Rússia é o principal fornecedor destes insumos para o BR, vendendo cerca de 23% do produto ao país. Estes insumos já vinham em uma alta de preços e isso deve se acentuar com menor oferta para a próxima temporada. “Pelo menos, a safra 21/22 já está suprida com os fertilizantes. A preocupação maior é para o próximo ciclo, mas é impossível saber quão longe vai o conflito, então acredito que este seja um momento mais de cautela nesse ponto”, destaca Souza Lima.
Em relação à safra no Brasil, as perspectivas são boas para a temporada 21/22. A semeadura foi finalizada em fevereiro e houve aumento de área de 13,5% passando para 1,55 milhões de hectares. Em 20/21, houve atraso de plantio fora da janela recomendada, principalmente do estado do Mato Grosso o que não ocorreu este ano, por isso, a perspectiva é boa para o setor interno. “A produção, naturalmente, vai ter um aumento, não só pela área, mas também de produtividade, de forma que a previsão de colheita é de 2,8 mi/tons de pluma, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), ou seja, acima do ano passado. E se o clima for favorável, o mercado acredita até que a produção possa chegar perto de 3 mi/tons, atingindo o patamar recorde de 19/20”, enfatizou o especialista.
Na Bolsa de Nova Iorque, vencimentos mais próximos variam entre US$ 1,15 e US$ 1,20 por libra peso, já para o mês de dezembro deste ano, o contrato é negociado abaixo deste patamar por se tratar de outro ciclo. Para o primeiro semestre do ano, apesar dos conflitos, ainda há uma demanda forte por algodão que se mistura com os reflexos de problemas de logística para entregas na Ásia, o que contribui para a firmeza dos preços da fibra. “É importante observar o ritmo das exportações dos Estados Unidos até junho e julho deste ano, por ser o ponto de virada de safra e pela questão de logística e estoques do país. Há uma quantidade considerável a performar, mas se tudo ocorrer bem, acredito que o patamar deva permanecer acima de US$ 1 dólar por libra peso, já trazendo um pouco disso para o preço doméstico”, previu.
“Ficaremos também, como sempre, muito sensíveis ao câmbio que teve uma baixa nesse início de ano e ainda há perspectiva de mudança na taxa de juros no BR e EUA, mais as questões geopolíticas e as eleições no nosso país que devem resultar em grande oscilação no câmbio, mas, se trouxermos o cenário para o preço em reais, o patamar deve seguir elevado”, finalizou o corretor
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