Os preços do trigo subiram drasticamente no mercado internacional e, consequentemente, no mercado doméstico embalados pelo conflito entre Rússia e Ucrânia. “O preço do trigo aumentou por causa da guerra. Como sabemos, a Rússia e a Ucrânia são grandes exportadores mundiais e isso deixou o mercado bem nervoso”, descreveu Christiano Erhart, um dos sócios da corretora gaúcha Renato, associada à Bolsa Brasileira de Mercadorias. Segudo a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), a Rússia é o maior exportador mundial de trigo e a Ucrânia ocupa a 4ª posição neste ranking. Juntos, são responsáveis por cerca de 30% do mercado mundial de exportação do produto, o que corresponde a 210 milhões de toneladas.
Em função do cenário internacional, o trigo chegou a ter altas expressivas na Bolsa de Chicago, com o valor da tonelada chegando perto de US$ 14 por bushel no dia 7 de março, patamar que cedeu nas últimas semanas. “De duas semanas para cá, houve uma redução nos preços na tentativa de acomodar um pouco os valores”, destacou o corretor. Essa redução também se deve ao chamado movimento de realização de lucros, muito comum após altas expressivas nos mercados.
Aqui no Brasil, o mercado também está apertado em função dos grandes volumes exportados este ano, com mais de 2 milhões de toneladas embarcadas, o que ajuda a presisonar os preços. Segundo Erhart, os valores tendem a ceder. “Esses preços foram mais praticados pelas traidings, os moinhos não conseguem repassar esses valores para a farinha, por exemplo”. Nas últimas duas semanas, o preço da farinha chegou a cair 6% reduzindo a liquidez das negociações. Em contrapartida, o aumento do trigo no mês chegou a 25%. “Ainda falta um espaço de aumento na farinha para os moinhos conseguirem repassar a valorização da matéria-prima”, contextualizou.
No Paraná, principal produtor do trigo, a tonelada do trigo atingiu os R$ 2.000,00 este mês segundo o indicador da Bolsa Brasileira de Mercadorias. Hoje, o valor da tonelada está em R$ 1950,00 nas cidades de Cascavel, Maringá e Ponta Grossa, com valorização de 13,37% em 30 dias, apesar do recuo na semana. No Rio Grande do Sul, o valor mais elevado para o grão é observado em Júlio de Castilhos, por R$ 2.080,00, com valorização de 22,35% no acumulado de um mês. Já em Campos Novos (SC), a tonelada é vista a R$ 1.900,00, segundo levantamento das corretoras da Bolsa Brasileira de Mercadorias.
Por causa dessa situação de alta no mercado internacional, o governo argentino concedeu crédito à indústria do trigo local na tentativa de forçar uma queda no preço do pão. A linha de crédito fornecida pelo país vizinho deve atingir 8 bilhões de pesos a taxas mais baixas para a indústria de moagem. A Argentina é o principal exportador de trigo para o Brasil, porém, o valor do trigo argentino está chegando aqui hoje acima do preço praticado no nosso país, tornando o produto dos hermanos menos atrativo. Com esse cenário, o momento é marcado por compasso de espera na indústria. “Muitos moinhos saíram do mercado e aguardam para se abastecer com novos lotes para ver se o preço do trigo cai. Hoje, moinhos do RS e SC estão quietos no mercado enquanto o PR compra pequenos lotes”, resumiu.
Em nota, a Abitrigo lembrou que "Outra questão que pode impactar o preço do trigo é a incerteza em relação aos fertilizantes, pois a Rússia é um dos maiores produtores do mundo e também fornecedor desse produto para o Brasil, além da influência dos fundos de investimento, que aumentaram suas posições nas commodities, ampliando a volatilidade dos preços".